aprendendendo a tolerar os outros

Estou tão próximo dos dezoito como dos trinta, e nunca me senti tão próxima dos meus dezasseis como ultimamente.
Daquela miúda parva, que subia para cima de qualquer sítio, a abarrotar de felicidade dentro da incerteza que sempre foi, ser eu.
Não faço ideia do que quero fazer com a vida, não sei para onde ir nem com quem me dar.
Há dias em que me apetece fechar a porta de casa, largar o telemóvel num caixote qualquer, e usar a mochila que um dia comprei, para ir à procura de mim mesma.
Mas isso são sonhos, mal construídos e elaborados, que me levam a uma imagem a regressar daqui a uns meses para os braços dos meus pais.
Raios parta se começo a valorizar a casa do meu pai e da minha mãe...
Ou os conselhos da minha mãe há uns anos atrás.
Quando discutíamos e partíamos o prédio em metade, mãe, às vezes até tinhas razão.
Pai, tu tiveste sempre.
Não suporto o rapaz que gosto metade do mês, às vezes acho que devia trocar de amigas, não me encaixo com as maior parte das pessoas, não faço ideia do que a minha geração está a fazer com a própria vida.
Metade deles tornaram-se Dj's, sou mais masculina que metade dos homens que me rodeiam, ninguém sabe falar de nada demais sem ser do que compraram sexta para usarem sábado.
Sim, prefiro o meu grupo de amigos rapazes, que mijam em esquinas, do que os politicamente corretos e bem parecidos, mas que vão à casa de banho em grupos de cinco ou seis.
Vá lá, vocês não vão segurar na pila uns dos outros não é, afinal de contas para vocês, a homossexualidade é uma vergonha, viver da mesada dos pais e terem pó no lugar do cérebro é que não.
(Um minuto de pausa).
Eu literalmente saio de casa de sapatilhas e roupa escolhida à toa.
Como posso eu competir com homens de leggins, tshirts justas, ou cuecas que servem de calções?
Houve uma altura, que achei francamente que ia ficar solteira para sempre.
Porque a sério, o que é que nos aconteceu?
A casa dos segredos está em metade da televisão das pessoas, não entendo se a música que ouvem é realmente música ou um aglomerado de pimbalhada e cabeçadas na parede.
Todos se drogam, todos se fodem à sua maneira.
E sinceramente começo a encontrar mais aconchego junto dos drogados do que dos normais, porque esses são os piores que esta geração criou.
É quase que como a chegada ao mundo dos perdidos, mas vá lá..
Os normais.
Os normais que não têm opinião formada, sabem do que falo?
Os "tanto faz" ?
Aqueles que numa noite qualquer se junta um grupo de amigos, para falarem de merdas que até podem fazer a diferença no planeta, e há um atrasado qualquer que remata "Pois é."
Os "Pois é", dão cabo de mim.
Mas pior que os normais, só os que são francamente normais e se tentam passar por algo que não são.
Já vos aconteceu certo?
Sair à noite num dia qualquer, e numa festa de drum verem uns quantos com tshirts dos Pink Floyd? Ou dos Nirvana?
Ou irem a festas de kizomba e verem o Bob Marley estampado numa tshirt de uma rapariga que vai até a baixo como se estivesse à procura de qualquer coisa que caiu no chão?
O que é que ela estará à procura... Nunca fico tempo demais para descobrir.
Os meus pais disseram-me que a faculdade iria ser um sítio bom para conhecer pessoas mais próximas de mim.
Sabem o que encontrei na faculdade?
Encontrei formas de socialização muito próximas de bullying, encontrei filhos de ricos a tirarem cursos superiores puxados a ferro, encontrei gente muito inteligente obrigada a desistir do que queria, porque comer torna-se mais importante do que ir a frequências.
Encontrei professores que não tinham nada de professores, encontrei cultura junta de gente que nem licenciada era.
Mas sim, é a melhor fase da nossa vida.
Em que nos estamos a descobrir, damos o rabo e dois tostões, para chegarmos aos "vintes" sem noção do que queremos ser. ( JESUS!!!!!)
Por falar em Jesus, e aqueles que acreditam em Deus?
Mas que maltratam a mulher, só lêem o correio da manhã, e que se lixam de todas as maneiras possíveis?
Deus vai levar-vos longe.
Entre a minha licenciatura e Deus, quase que aposto na faculdade.
Eu não sou naturalmente sociável, não sei se é um mecanismo de defesa pessoal, mas começo a achar que sou só eu, como adulta, a compreender que a socialização é uma forma muito podre, de te integrares em algo onde não pertences.
Não, eu não vou aconchegar-me a conversas que fluem naturalmente, só para cair nas boas graças de alguém, que nem sabe de onde venho nem o que quero.
Se não gostas de mim, ou se eu não gostar de ti, não quer dizer necessariamente que tenhamos mau gosto.
Quer só dizer, que embora pertencemos ao mesmo tipo de espécie, não pertencemos ao mesmo mundo.
As pessoas não são obrigadas a gostar de toda a gente, o mínimo requerido é o respeito.
E isso torna-se numa metáfora muito estranha, porque sejam bem-vindos à geração de homens que não respeitam mulheres, e à geração de mulheres que não se respeitam.
No meio disto tudo, consigo só olhar-me ao espelho, antes de sair de casa, e achar que estou a começar a aprender a tolerar os outros.
Já não viro mesas de café nem desperdiço cerveja em cabeça alguma.
Embora a saudade bata alto cada vez que ouço certo tipo de coisas...
Aprendi a bebê-las até ao fim, e a sair delicadamente de qualquer sítio em que a minha presença não seja uma mais valia.
Inês, como cresceste.
Bem-vinda à idade adulta.



Comentários

  1. "Sim, prefiro o meu grupo de amigos rapazes, que mijam em esquinas, do que os politicamente corretos e bem parecidos, mas que vão à casa de banho em grupos de cinco ou seis.
    Vá lá, vocês não vão segurar na pila uns dos outros não é, afinal de contas para vocês, a homossexualidade é uma vergonha, viver da mesada dos pais e terem pó no lugar do cérebro é que não."

    RINDO

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  2. Como cresces-te mesmo! Sigo-te há imenso tempo e digo o mesmo "como cresci!" Obrigada por teres feito parte do meu crescimento, espero q continues a fazer! Se adoras escrever, então escreve aí que eu adoro ler-te! Beijinhos, Filipa ❤��

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  3. https://www.youtube.com/watch?v=NDFAp5Y92og

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  4. O que mais me comove neste blog,é lê-lo do inicio ao fim.Claramente tiveste uma relação longa,depois apaixonaste-te por alguém que te partiu o coração, e a seguir voltamos a ver alguém apanhar os cacos e seguir em frente.Isso é bonito de se ver.É ainda + ver que é uma mulher,sem medo das opiniões.O mais impressionante aqui,é sentir que nunca te conhecemos mesmo.parabéns Inês,´bem vinda à idade adulta.desejo-te tudo de bom que nunca percas esse brilho.

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  5. Não tenho o habito de comentar blogs de pessoas que não conheço. Mas confesso que desta vez não consegui resistir.
    Gostava que houvessem mais pessoas como tu, que pensassem como tu. Revi-me neste texto.
    Parabéns por continuares a ser tu mesma neste mundo de carneirinhos!

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  6. Em alguns anos de vida, 29 anos sendo mais exacta, é a primeira vez que leio um artigo de um blog sem que os meus olhos mudassem de linha, sem sentir aquele sacrifício visual que às vezes fazemos para tentar perceber e compreender o ser humano. Tolerar os outros, uma das tarefas mais difíceis mas também das mais importantes. Muito bom encontrar pessoas com a bravura necessária para os leitores se identificarem. Adorei, muitos parabéns Inês. #spreadlovetoyou #contínua

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  7. Revi-me tanto nexte texto! Obrigada Inês, por escreveres aquilo que eu sinto e nunca consegui pôr em palavras.

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