a vontade

Tens a vontade de eu ser diferente, dentro da primeira gaveta da mesa de cabeceira.
És capaz de encontrar lá mais merdas também, por isso cuidado com os dedos enquanto vasculhas.
Deve vir num pacote ligeiramente pequeno, que se dobra em outro muito grande.
A vontade era enorme, mas as embalagens em que me embrulhei tinham muitos nós.
Muitos nós, muitos fios, muitos nomes e muitos dias.
E foi por isso, que a mesa de cabeceira ficou perdida em algum espaço, que escolhi não abrir.
É que sabes, encontrar-me a mim seria brutalmente doloroso, lembrando os nomes que em mim moraram.
Mas abre o pacote na mesma, perde-te tu num mundo que nunca foi meu.
És bem-vindo.
E quando voltares lembra-te, nada que foi demasiado amachucado, volta ao que foi.


Comentários

  1. Adorei! Consigo rever-me naquilo que escreveste. Se bem que a parte dolorosa está relacionada com o facto de eu provavelmente não gostar de ver o meu "eu" na gaveta ("encontrar-me a mim")

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